segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A hora do despertar


O rádio relógio toca. Olhos embaçados de sono mal enxergam as horas.
A porta do quarto está fechada, mas não trancada, como sempre. 03h59min (três e cinqüenta e nove), agora os olhos mais despertos observam nitidamente o relógio. Era à hora do despertar.
O coração acelerado, as artérias pulsavam compulsivamente. Os calafrios ao ouvir os primeiros rangeres das tábuas da velha escada. Degrau por degrau, estalos de tábuas soltas e madeiras estralando.
As janelas estão trancadas, as árvores chacoalhando ao sopro do vento.
A concentração ao olhar pela janela é quebrada com uma batida na porta do quarto. O susto o joga novamente para o interior da cama. Silêncio.
Os pensamentos em confusão questionavam quem estaria naquela hora ao pé da porta?
Mais duas batidas fortes e ocas. Lençóis voam, travesseiro vai ao chão. Agora em pé e com os olhos mais acostumados ao escuro e, atentos procuram uma saída. Uma decisão.
O medo que paralisa. O medo de algo desconhecido e tão próximo.
Roupas e sapatos jogados ao lado da cama, tropeçando em lençóis e com o olhar fixo na porta, agora os olhos captam uma sombra movendo-se rapidamente pelo vão da porta. Mas a casa estava escura, eram 03h59min da manhã, não havia luminosidade para criar uma sombra. Um breve momento de concentração e raciocínio, refletindo sobre a causa da sombra. Não era momento para se pensar muito.
Uma nova batida na porta seguida por um estrondo. Poeira cai do teto.
Um armário próximo a porta balança e joga poeira no ar. Agora os olhos
fixos na porta aberta. No corredor e na escuridão, um breu e nada. Paralisado pelo choque.
Aos poucos uma sombra vem se formando na entrada da porta. Vem ganhando
um tom diferente da escuridão. Ganhando forma e traços.
As pernas perdem as forças. Os olhos latejam. Não havia pernas ou pés na forma frente à porta. Não tocava o chão. Parecia um grande pano negro desbotado com um capuz caído à frente, imóvel. Apenas se tornando mais visível ou mais real aos poucos.
Novamente os olhos buscam a janela e voltam rapidamente para o ser. O capuz ergue-se bruscamente. Como se fosse um movimento rápido de uma cabeça erguendo-se, se pondo ereta; um terror frio jorra adrenalina nas veias. Um par de olhos brancos que aos poucos ganham um tom amarelado nas órbitas. Olhos verticais, como se fosse um réptil. Uma breve piscada dos estranhos olhos. E um tilintar luminoso logo acima da cabeça do ser abominável que ganha forma e vida frente à porta.
Agora os olhos se prendem ao tilintar, um breve reflexo da luminosidade da lua que entra pela janela. Uma lâmina, uma enorme foice se torna visível. Segura por um fino braço saído da manga do grande pano que cobria o ser. A foice era suspensa pela mão esquerda da criatura que agora erguia o braço e a mão direita esticada com o dedo indicador apontando para o peito do homem assustado.
Olhando de forma compenetrada para o dedo esticado do espectro a sua frente e segurando forte o próprio peito, colocando a mão em cima do lado esquerdo amassando a camisa. Um olhar rápido para o próprio peito. Os olhos voltam para a criatura que agora aponta em direção da cama. O olhar acompanha a direção do dedo fino e longo esticado para a direção onde antes dormia. A alma congelada. Uma eletricidade que corta as costas.

Na cama jazia um homem em decomposição. Cadavérico, com os cabelos e unhas longas. Com ainda finos pedaços de pele e músculos colados aos ossos.

Engasgado com o ar e no pavor do momento um grito melancólico e aterrorizado. Era o som que contaminava a mente. Porém era um gripo surdo. Apesar dos berros o silêncio era inviolável. Nada se ouvia. Foi o bastante para o desespero causar um surto irracional. O olhar não voltou para a criatura. Simplesmente fixou na janela e
logo em seguida só ouvia o som de vidro e madeira estilhaçando, estourando. Um forte impacto contra o teto que cobria a varanda e uma nova queda dessa vez em cima do chão coberta com gramíneas alta e mal cuidada. Via o céu estrelado, e uma lua do quarto minguante e apenas a metade da parte visível da Lua está iluminada, como no quarto crescente, só que desta vez a parte iluminada está voltada para o lado do nascer do Sol.
Na janela não se via nada, apenas pedaços de madeira e vidros quebrados. E um rápido tilintar de luminosidade refletida na lâmina fria de uma foice portada por algo nada agradável.
Correndo contra um leve vento. Correndo para longe da casa, da criatura. Apenas para longe. A casa era cercada por um bosque. Muitas árvores e ao fundo o som da corrente de um rio. O pouco da claridade era advindo da lua. Em menos de uma hora o sol nasceria, era a esperança no qual se agarrar e ir para longe, sem se importar com o
rumo. Quanto mais adentro do bosque mais escuro se tornava a noite.
Uma clareira e uma carroça. Movimentos ao lado da carroça. Alivio. Um grito para chamar a atenção das pessoas da carroça. E novamente não se ouvia a voz, nem grito. Era uma carroça sem cavalo, velha e cheia de peixes que fediam a podre. No centro da clareira a luz era prateada e bem iluminado era. Muita força para reduzir a corrida e para de uma vez. Um vento balançava as arvores e dois animais levantaram as cabeças e cheiraram o ar. Ambos estavam declinados dentro da carroça comendo os peixes. Eram peludos, com grandes focinhos com enormes mandíbulas. Os pêlos sujos de sangue pingavam ao chão. Um deles levantou-se e cheirou o ar novamente quando o segundo rosnou ameaçadoramente quando o outro ficou em pé. Não demorou para ambos
olharem diretamente para os olhos que os observavam sem saber mais o que fazer e como sair do pesadelo. Eram maiores do que ursos e mais ágeis do que lobos. Era a morte com garras e presas feitas para matar.
Um último gesto desesperado de brigar pela vida. Uma última tentativa
de fugir do terror antes de se entregar e deitar sufocado.
Corria quando ouvia os uivos que ecoavam pelos bosques. Pulava raízes de árvores e se embrenhava no mato e pequenos arbustos pelo caminho.
Viu a saída, o início do fim do bosque. Era a grama alta e mal cuidada e logo à frente a casa com a janela quebrada. Mas impossível ser.
Corria em sentido contrário a casa, como pode voltar. Agora chorava e pedia ajuda a qualquer coisa que pudesse o ouvir. Virou-se de costa para voltar a correr para o bosque no momento em que ficou paralisado e com a boca aberta, suor frio e jogado em um nada. Eram os olhos amarelos de serpente dentro do capuz. Trajado com seu pano escuro desbotado pelo tempo; segurando a foice com a lâmina bem acima da
cabeça. A criatura o encarava sem expressão. E veio o golpe com a lâmina da foice bem em direção ao centro da testa. Escuro. Sem sentido.


A companhia do rádio relógio toca. Os olhos abrem-se com sono meio embaçados.
Ao olhar para o relógio gelou ao ver o horário 03h59min. Era à hora do
despertar.
O frio do medo e o primeiro ranger da escada. Madeira estalando e a
porta fechada, mas não trancada, como sempre

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Lobisomem de Sallun


Corria pelo campo. O fogo queimava a alma e ouvia o som da besta se aproximando.

A visão começou a ficar amarelada e aos poucos turva.

Desespero. Procurava abrigo. Os minutos corriam pelo corpo.

Sentia as dores, a voz da consciência se afastava e os sentidos eram dominados. Sabia que a besta estava chegando.

Caído ao chão do campo. Contorcia-se de dor e angústia. E no fundo ouviam-se gritos de mulheres, latidos de cães e choros de crianças.

A visão escureceu. E segundos depois voltava aos poucos. A noite ganhava uma nova aparência. Novas cores, um mundo em preto, branco e amarelo. Não havia mais escuridão.

A fúria era algo descontrolador. Barulhos. E uma pancada.

Olhos cerrados em um homem. Enxergava a vida nos olhos do rapaz, que agora corria assustado.

Galopava em sua direção. Rapidamente e com um único movimento o homem ia ao chão. Morto e com sangue escorrendo de seu pescoço. A vida ia-se.

A fome. A sede. A fúria. Era a besta.

Uma porta estoura-se. Gritos de mulheres. Unhas rasgavam a madeira do assoalho. Uma mulher desmaia. Todos gritam. Mas era tarde. A criatura estava saciando sua fome e sua sede.

O anjo da morte ceifava mais uma vida. Sangue e carne espalhados.

A criatura agora corria rumo à floresta. Seguia a lua, sua mãe. E chorava por ser o que era.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

2º Carta aos senhores das terras médias


Carta escrita por um líder de uma das 7 tribos das terras médias, em resposta há uma carta enviada pelos homens da muralha norte das terras congeladas





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Escrita em uma lua nova de outono

Os pássaros voam rapidamente e ainda estão fora de época.


As noticias trazidas do norte não são animadoras. Mas não cairemos na loucura do caos organizado pelos deuses.

Somos objetos em um tabuleiro para os deuses. E outros senhores querem usurpar nossas terras a mando de novos deuses. A guerra será travada além da terra e do mundo além da vida.

Lamentamos as angustias vivenciadas pelos irmãos da muralha ao norte congelado. Não era o momento de lutarem entre si. Entre o próprio sangue.

Nada tira da minha cabeça, em particular, que esse caos é trazido pelos homens de preto que trazem o deus pregado na cruz! Trazem a discórdia e o medo.

Mas algo acima disso me deixa em alerta: Esses mesmos homens de preto com seu deus pregado na cruz vieram com sede, vorazes conquistando nossos homens e sem aviso, sem deixar uma razão, sumiram! Todos estão indo para o leste. Em direção ao mar, provavelmente cruzarão o canal e irão em direção das terras do rei Edmundo XI, o traidor! Ele é uma peça do deus pregado. Convertido pelos homens de preto. Receio um ataque desse rei louco. Mas confesso estranheza. Pois as tropas das sete tribos subjugam facilmente o exercito vindo das terras de Edmundo.

Então presumo que algo acontece muito além de nossas fronteiras. E esses corvos desgraçados, que carregam as cruzes de madeira se calam, não dizem nada.

Nem a tortura abre a boca dos malditos corvos!

Confesso que torturei dois abates e apenas um repetiu inúmeras vezes às mesmas palavras:

“O pecado será punido pelos próprios pecadores. O mal abaterá o próprio mal”...

Malditos corvos.

Muitas famílias que não mais pertencem à antiga religião estão vivendo em nossas terras. E eles nos pagam muitos tributos, por isso não os matos! Entretanto esse novo deus está crescendo e nossos deuses estão irando-se!

E não poderei abrir guerra contra os homens do deus pregado, sem antes saber o que está acontecendo além de nossas fronteiras ao sul. Não arriscarei uma guerra contra Edmundo XI sem saber o que afugenta os homens de preto.

Confesso que a habilidade da escrita foi-me ensinado por esses “tais” abates. Os paguei com ouro para me ensinarem essa habilidade. Pois nunca confiaria em outra pessoa para escrever por mim. Principalmente cartas em tempo de guerra ou de instabilidades.

Hoje apenas eu e um amigo, Hermerdad. Apenas nós escrevemos em nome de minha tribo.

E pelo que sei apenas outras três tribos tem homens que escrevem ou lêem. Sem contra os homens do deus pregado. Mas ninguém é doente em confiar nesses corvos.

Então, não confie em nenhuma carta que não conter meu nome com minha letra e meu carimbo, Sir. Loreson.

E em respeito ao seu nome e aos homens da muralha das terras congeladas, enviei 50 (cinqüenta) cavaleiros à frente e mais mil lanças.

Aguardarei noticias do norte. Seja do seu povo ou de meus homens.

JAEL, Logartan Rognard; de Bebbamburg

JJJARLR

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Carta aos senhores das terras médias


Responsavelmente dirijo aos senhores às noticias de meu estandarte.

A bandeira que trás o símbolo do lobo. Das terras do norte, responsável pelas muralhas que seguram os bosques e terras gélidas que vão além do nosso alcance visual está se rasgando aos poucos.

Sugiro que se preparem para uma guerra pouco desejada.

Muitos fugirão, atravessarão o mar, levarão suas famílias para longe. Eu gostaria de estar longe. O mais longe do meu mundo. Pois eu vejo as teias do destino se formando, grandes dores e perdas; mas o pior é saber da impotência e limites do meu poder. Sendo que não tenho força ou reação pára frear o destino.

O dever ou os juramentos feitos nessa vida não me permitem tamanha ousadia. A honra em ser o que necessitam que eu seja.

Alerto que o inferno virá junto com o frio. O céu escurecido por nuvens pesadas será o prenúncio, pior que as vozes de lamentos que suporto todos os dias.

O senhor das terras se perderam. Lamento em dizer, porém afirmo que tenham caído em uma armadilha provocada pelos deuses, como muitos acreditam, ou mais sabiamente, poderei dizer provocado pelos homens do mundo.

Os senhores que faziam as forças do norte se perderam.

Primeiramente posso dizer que não caíram pelos fios das espadas. E sim pelas cortantes línguas, venenosas, mais poderosas que mil espadas.

A rainha da lua, senhora do grande Lord, causou grandes choques de palavras, melhor dizendo, fortes intrigas com o grande senhor das terras das pedras queimadas. Chegando ao ponto de seu marido cortar os laços com os homens das terras mencionadas. Quase mil lanças saíram das grandes muralhas. O Caos foi iniciado.

O grande senhor das florestas de Arcan ficou irritado com a perda de tantos bons soldados. Tentando apaziguar o Caos. Mas um furacão não muda de direção com um simples assopro. O grande senhor de Arcan conflitou-se com a rainha da lua, fortes discussões com o grande Lord culminaram em uma batalha sangrenta, sangue do norte derramado e nenhum inimigo, nem mesmo uma sombra caída fora das grandes muralhas. O meu receio veio logo em seguida quando os três Karls conspiraram contra o grande senhor do norte. Um Karls foi morto, a morte trouxe consigo o lamento de muito e a acusações de tirania e maldade da rainha da lua. Muitos soldados deixaram as muralhas. Voltando-se contra o grande Lord. Afastaram-se e esperam a queda de meu reino. Mas com a queda não haverá mais reino ao norte, não haverá mais reino de senhores nas terras médias e nem ao sul. Cairão um a um. Novos deuses invadirão nossas terras e com eles as criaturas das florestas que vão além da grande muralha.

O grande Lord permaneceu ao lado de sua rainha. Derramou sangue e criou o Caos. Grandes soldados se preparam para enfrentar espadas ou lanças e se esquecem de outra grande arma: As palavras embriagadas pelo amor de uma mulher. A Rainha conspirava contra o grande Lord e fugiu com um amante para o Sul. A rainha achou novo sangue para injetar seu veneno. E deixou nosso reino quase morto. O Grande Lord morreu de uma febre. As pessoas que não fugiram estão com medo. E agora apenas eu comando e guardo as grandes muralhas, com os soldados que me servem lealmente. E provavelmente aqui morrerão, preferindo morrer em sua terra.

Se as grandes muralhas caírem, o caminho estará aberto para aqueles que caminham no gelo e na noite. Aqueles que o frio não mata e nem congela.

Com o cargo que tenho. Faço minha função de proteger a entrada para as terras dos nossos reinos. Caso queiram defender-se preparem para a chegada do inverno. Pois ele atravessará as muralhas e chegarão as terras médias. E caso queiram combater nas grandes muralhas e marcharem para o norte, sinceramente, não sei o que encontrarão quando chegarem aqui. Pois escrevendo essa carta eu vejo o vento trazer nuvens e os primeiros grãos de neve.

Saudações das terras Arcanticas. Que a memória nossa não se perca quando suas espadas forem desembainhadas.

Sir. Loreson Martiriano

Casa dos lobos de Arcantica

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um pouco sobre os Vikings



A Busca Dos Vikings

O sol quente retorna novamente,
E derrete a neve
O mar é livrado das correntes geladas
O inverno esta indo

Em pé junto ao oceano
Podemos ouvir as ondas
Chamando-nos para fora com a maré
Para navegarmos em nosso destino

Odin! Guie nossos navios
Nossos machados, lanças e espadas
Nos guie por tempestades que chicoteiam
E na guerra brutal

Nossos navios nos esperam no porto
Chegou a hora de deixar
nosso país, família e casas
pelas riquezas no leste

Alguns de nós não retornarão
Mas isso não vai nos desanimar
O nosso destino está escrito nas teias
Tecidas pelas Norns

Um carneiro é sacrificado
Na proa do do longo navio,
E enquanto ajustamos nossas velas
Uma forte brisa começa a soprar

Ela transporta-nos para o mar
Com esperança de fama e orgulho
E gloriosos todos serão
aqueles que com a espada na mão morrerem

Odin! Guie nossos navios
Nossos machados, lanças e espadas
Nos guie por tempestades que chicoteiam,
E em guerra brutal

Odin! Guie nossos navios
Nossos machados, lanças e espadas
Nos guie por tempestades que chicoteiam
E em guerra brutal

Letra da banda Amon Amarth

* As Norns são um clã de deusas gigantes Jotuns (de Jötunheimr), Urd (passado), Verdandi (presente) e Skuld (futuro), que tecem o destino dos humanos.

Comentário:

Os povos nórdicos, como por exemplo, os dinarmaqueses ou os noruegueses, foram conhecidos em um período, um pouco anterior a idade média, como grandes guerreiros, ferozes e pagãos! Além de que eram grandes comerciantes, pois tinham uma técnica de navegação útil para a época; e esses mesmos comerciantes serviam como espiões, para possíveis ataques as cidades.

Os povos nórdicos, dizem alguns historiadores, que desbravaram várias regiões do mundo, incluindo a América do norte, chegando próximos desse continente pela Groelândia. E também em outras regiões do mundo. Mas as terras que os nórdicos cobiçavam isso eu me guio pelos romances clássicos sobre esse período, eram as regiões da Bretanha ou até mesmo a terra dos Francos. Buscavam terras ricas para plantar e criar animais, além de extensão para criar comunidades ou povoados.

Esses povos Nórdicos eram chamados de Vikings quando se juntavam em bandos e junto de seus barcos navegavam implantando saques a outras navegações comerciais e a invasão de terras para saques e pilhagens. Uma atividade caracteristicamente próxima da pirataria.

Na Bretanha, por exemplo, o primórdio do cristianismo ganhava muita força. O que fazia dos Dinamarqueses pagãos, enviados do mal para punir o povo cristão da Bretanha que por muito tempo cultuavam os “falsos” deuses, de acordo com os cristãos da época.

Os Vikings ou povos nórdicos conquistaram muitas terras. Muitas guerras. Levando o medo para Francos, bretões e saxões. Um povo antigo com uma cultura mítica rica e interessante.

Aos poucos vou descrevendo mais sobre a cultura desses povos antigos.

Thiago


sexta-feira, 3 de junho de 2011

[Conto 2, parte2] Lua prateada olhos amarelados

Atrás da banca de jornal um casal fumava maconha, o cheiro se espalhava pelo ar, Alexandre resolveu caminhar para outro bar, não pelo cheiro da erva queimando, pois ele simplesmente era um andarilho da noite, seguindo mais para o norte da cidade, subindo a avenida mais alguns quarteirões do local que estávamos. Preferi não ir. O sono retornava, precisava descansar a cabeça para depois reorganizar meu raciocínio. Algo fazia sentido em meio tantos pensamentos turbulentos. Era hora de retornar para casa.

Despedi-me de Geraldinho, o dono do bar, um sujeito barrigudo e meio careca; os dois homens que conversavam ao meu lado no balcão já haviam ido embora.

Segui descendo a avenida principal, passei em frente ao ponto de ônibus que fica na esquina do bar, ainda havia muitas pessoas esperando o corujão, os ônibus da madrugada; as ruas ainda tinham vida naquela parte. Após cinco minutos de caminhada havia chego a frente da catedral, horas antes era grande a movimentação na praça em frente à igreja e dos carros que subiam a avenida, naquele momento, que retornava, se ouvia os morcegos que viviam nas arvores da praça, entrei no estacionamento da catedral, iria cortar caminho pela igreja, descendo as escadarias ao arredor da entrada principal; começava a notar como eram belos os desenhos da vidraça da igreja, as esculturas de anjos que ficavam nas muretas do estacionamentos, aquele lugar era calmo, passava uma tranqüilidade, era a essência da noite. O vento ficava mais gelado, o céu estava límpido, estrelado e a rua solitária. Percebia também que Alexandre estava correto, a cidade adormecia mais cedo que o normal.

Esquina da Rua Santa Maria, descia sentido ao mercado municipal, era o centro comercial da cidade, algumas ruas apenas com lojas, escritórios, praticamente nenhuma residência, durante o dia era um caos, a noite era naturalmente um imenso espaço vazio. Acostumado com o clima descia a rua em silêncio, olhei para trás não via ninguém, apenas sacos plásticos sendo levados pelo vento, estalos nos fios de alta tensão do poste; imaginava como seria alvo fácil alguns estabelecimentos para assaltos, quanto tempo a policia demoraria a chegar caso fosse necessário, outras vezes pensava como estavam em péssimas condições das calçadas, os bueiros sujos; em meio aos pensamentos não ouvia os latidos de cachorros, era algo normal, que fui percebendo aos poucos. Mais cachorros latiam distantes, alto o bastante para se ouvir, os latidos foram ficando mais fortes, mais nervosos, alguém em algum lugar deveria estar provocando os cachorros. Apertei os passos, naquela altura da noite não era interessante encontrar ninguém na rua, principalmente quem provocara a ira de tantos cachorros. Logo em seguida começou um som que me chamou atenção, estava de frente para a praça do Mercadão, havia duas ruas que eu poderia entrar, a primeira entrada para uma rua que fazia uma grande curva, dificultando a visualização da outra ponta da esquina, ouvia galopes... Pensava - “quem estaria cavalgando aqui, nessa hora?” – Loucura, um frio passou pelo corpo, uma sensação de desespero oculto, mas não estava com medo. Olhava para esquerda observando a rua que fazia a curva, havia um poste com a luz fraca iluminando a virada, enxergava um bar fechado ao lado de uma ótica, nada mais, fortes galopes ressoavam pelas ruas, parece que o som surgia de todas as direções. Encostei-me ao canto da parece, tentava observar quem andava na outra ponta da rua, o som parou repentinamente, resolvi caminhar um pouco para dentro da rua tentando alcançar uma melhor visualização, cada passo era mais adrenalina jogada no sangue, não entendia o porque da tensão, ainda não sentia um medo comum, sabia que alguém caminhava na outra esquina, uma sombra cresceu por um instante ao pé de uma pequena arvore, plantada não há muito tempo, foi um rápido momento, algo passou por instantes, recuei alguns passos, ouvi uma respiração forte, longas aspiradas de ar - Quem tentaria buscar cheiros no ar? – balbuciei. Novamente a sombra passa rapidamente. Sons de galopes rápidos, meu olhar fixo na única parte do outro lado da rua que enxergava. Paralisei. Terror mórbido. O choque que inconscientemente esperava. Um vulto negro e comprido passa rápido, mas não tão rápido a ponto de eu não o ver. No fundo eu sábia quem era, ou melhor, o que era. Corri para a praça do mercadão, procurei correr em sentido contraria a rua que estava, parei, olhei para o lado, via um ponto vermelho, provavelmente alguém fumando. Comecei a andar rápido em direção ao fumante, vinte metros adiante havia outra entrada para uma rua que começava a subir sentido a minha casa, porém, a rua anterior no qual vi o grande animal que aspirava o ar sairia nessa próxima rua, não poderia subir ela, passaria reto e correria como nunca. Chegando próximo a esquina da rua seguinte um cala frio forte, era praticamente um medo de olhar para a esquina da rua que surgirá adiante. Coração disparado, o som dos galopes cessaram, não sei o momento exato, pois fui dar conta disso quando passei pelo ultimo pedaço de parede, começou a rua, olhei para a direita, nada na outra esquina; ressoa um som alto de ferro entortando. Meus olhos arregalados e estáticos avistam um focinho com um nariz negro surgir, uma cabeça com orelhas em pé, atentas, pêlos negros, eis que surge uma fera andando sobe quatro patas, era maior que qualquer cachorro grande, meio corpo do animal passou pela esquina, ele parou, aspirou novamente, olhou para minha direção, tentai não fazer barulho, fiquei estático, ele saía de uma rua escura, pouco iluminada, seus olhos brilhavam, olhos assassinos de um caçador perfeito, fixos. O animal colocou uma pata na parede e forçou o corpo para frente se pondo em pé, derrubou um pedaço do reboque da parede, em pé era enorme, muito maior do que eu, praticamente três metros de altura, mais ou menos, as patas traseiras eram longas, quase iguais a de um cachorro, as patas da frente mais pareciam braços longos quando estava em pé, no qual os dedos eram mais longos e separados se comparados com as patas traseiras. O animal caiu sob quatros patas novamente, dessa vez pulando para frente, mostrava todo o corpo dessa vez, me assustei, mas não me mexi, talvez aquela coisa quisesse que eu corresse. Ouvi passos vindos, olhei para o lado, o rapaz que fumava descia em minha direção, olhei para o animal que caminhava também em minha direção, lentamente ele andava e ia se pondo em pé novamente, as patas da frente se esticam novamente parecendo braços soltos, sem tocar mais ao chão, agora o tronco ia erguendo-se; o rapaz chama minha atenção falando alto.

- E aí cara, o que você ta fazendo aí? Ta com medo de mim, rapa? – Olhei assustado para o cara que vinha com um capuz na cabeça, talvez ele quisesse me assaltar realmente e vendo o medo nos meus olhos ele obteve a presa perfeita, porem, nós dois nos tornamos presas perfeitas. Olhei para a fera de pêlos negros e olhos amarelados, ela parou com a voz do homem, se minha visão não ficou deturpada pelo medo, consegui ver as unhas do animal se alongando junto com os dedos esticados e a fúria animalesca foi solta com um urro selvagem, a boca aberta mostrando os enormes caninos, uma boca daquela, com tantos dentes amarelados e pontiagudos poderia arrancar qualquer parte do meu corpo sem dificuldades. Outro urro furioso seguindo de um uivo ensurdecedor, o homem parou pego de surpresa, olhei para o individuo e gritei já correndo.

- Corre, corre, puta merda, corre! – Era o que eu conseguia falar, a criatura estava quase um quarteirão de distancia de nós, passei correndo pelo homem ou jovem, não olhei para seu rosto, depois que me viu passar correndo por ele gritando para correr, também decidiu se mexer trotando por pouco tempo até parar e começar a olhar para a esquina que eu estava parado; novamente ouvia-se o galope do animal que já não se escondia, foi minha vez de olhar para trás e ver o homem correndo muito mais lento do que eu e sempre olhando para a esquina. Eu corria sem cansar, muita adrenalina no sangue, nesse momento ouvi o desespero do homem, gritava como uma criança alucinada pelo medo. O individuo corria em disparada. Na esquina o animal virou a rua galopando em quatro patas, a criatura aspirava o ar, rugiu pela terceira vez, nesse momento senti que agora aqueles olhos amarelados fixariam em um de nós dois e caçaria a presa escolhida com uma fúria maldita.

Corria por uma rua íngreme, o ar começou a faltar. Adiante a rua terminaria, não poderia seguir reto, teria de virar para esquerda ou direita. O homem continuava gritando, já não ouvia o animal. No fim da rua olhei para a direita, uma boa descida, porém não enxergava nenhuma luz a não ser dos postes, não teria nada adiante. Olhei para esquerda, duas ruas a frente haveria uma rotatória, passando por ela chegaria a um posto de gasolina ainda com luzes acesas. Não pensei e comecei mais uma corrida rumo à luz.

- Deus do céu. Sai daqui desgraçado! – ouvia o homem gritando, pelo menos estava vivo ainda.

Eram duas ruas até a rotatória, sentia o cansaço da corrida, do nervoso e o medo.

Olhei novamente para trás após ouvir o desespero do rapaz, ele havia virado a rua também, estava quase uma rua atrás de mim, um pouco depois do homem a criatura faz uma curva rápida, com os dentes a mostra e babando. Senti o fim do homem desconhecido. O animal passou ao lado do rapaz, ergueu-se em duas patas e com um dos braços rasgou o homem com as grandes unhas, um golpe feroz passou pelo corpo humano, rasgado como um pedaço de papel; um grito e o corpo caindo. O animal olhou para mim, cheirou o ar e continuou a me caçar. Meu medo virou o desespero há pouco vivido pelo rapaz rasgado e caído. Não poderia correr mais do que aquela coisa. Faltava meio quarteirão para chegar à rotatória, e mais um pedaço para o posto de gasolina, estava fadado à morte naquele momento... Caso não fosse os dados jogados pela vida. Um jogo de encontro e desencontros forjados e ultrajados pelas razões universais.

Um Pálio branco vira a rua rapidamente, luz alta, não enxergava quem estava no carro, pulei para a calçada, era a distração mandada para ter uma chance. O carro breca seco fazendo um barulho e trazendo um cheiro de borracha queimada. Som da buzina, não olhei para ver o que ocorria, estava em uma fuga cega. Ouvia o rosnado da fera, gritos de mulheres no carro, e a buzina novamente. O carro passou por mim, engatado em marcha ré, o motorista usando a sensatez preferiu voltar ao invés de tentar atravessar o caminho da morte. O carro parou, abriu a porta traseira, não pensava, por impulso pulei no banco traseiro caindo no colo de duas pessoas, havia quatro pessoas atrás contando com minha presença. Sem fechar a porta e com minhas pernas para fora começou a fuga. O animal deveria estar em pé, pois conseguia ver sua cabeça, seu rosnado, e seus olhos cravados em mim. O homem vestindo um terno bege passou por cima da rotatória, as mulheres choravam. Algumas pessoas saíram do posto de gasolina e foram ver o que ocorria. A criatura nos seguiu até a esquina, parou, rosnou e observou o movimento das pessoas vindas para acudirem os passageiros do carro que subiu na calçada e bateu em uma porta de algum estabelecimento. Tremia, sentia o medo frio do desespero.

Todos estavam fora do carro. Dois homens ameaçaram ir até a rua que havíamos subido, mas foram detidos por um uivo que rasgou a noite. Sabia que a fera havia receio de defrontar muitas pessoas ainda, foi o alivio momentâneo. As mulheres diziam que haviam visto a criatura dos infernos. Todos que estavam no carro falavam em pestes, anjos caídos, ou bestas apocalíptica. Pareciam fanáticos alucinados. Talvez estivem todos certos ou simplesmente buscam explicação no que fazia parte de suas crenças. Os policiais chegaram com várias viaturas, fizeram busca, ouviram minha história, procuraram o homem que eu havia descrito, não acharam ninguém, apenas muito sangue empoçado, arrastado. Um animal estivera ali, o que tirou as suspeitas de culpa da minha pessoa. Entretanto fui diagnosticado como uma pessoa perturbada, em estado de choque. Os homens do posto de gasolina não viram nada, só ouviram um cachorro uivando de medo do barulho provocado pelo motorista do Pálio. Informações desencontradas e um assassinato. Foi o que a policia encontrou. E uma história de uma besta noturna, o anjo da morte que caminha pelas ruas soturnas.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dica de Livro: O rei do Inverno, de Bernard Cornwell


O Rei do inverno é o primeiro livro de uma trilogia chamada: As crônicas de Artur.

Narradas por Derfel Cadarn, um órfão saxão adotado por Merlim e que acaba por se tornar um dos principais guerreiros a serviço de Artur.

As crônicas arturianas tratam da lenda de Artur, muito conhecida, não somente na Europa, mas em todo o Mundo.

Posso dizer que Bernard é um dos melhores romancistas históricos do mundo, para não dizer o melhor. Ele trabalha com a lenda arturiana de uma forma jamais vista, fazendo ligações de possibilidades históricas, tentando contextualizar diretamente com o histórico da antiga Grã-Bretanha.

Uma história fantasiada criada em um ambiente historicamente plausível que torna a escrita de Bernard intrigante, nos prendendo do inicio ao fim, e fatos tão complexos e detalhados como as descrições do cotidiano, da política, da barbárie e das batalhas da época.

Os personagens sempre presentes nos contos arturianos, como Guinevere, Lancelot, Merlin e o próprio Artur ganham personalidades marcantes e fazem o leitor se simpatizar com as personagens, criando laços em uma relação de ódio e amor, que pode te levar a algumas lágrimas.

O contexto histórico da obra foi elaborado em uma época considerada “Era das trevas”, anterior a idade média, período posterior a saída dos romanos da Grã-Bretanha, que está devastada com o domínio romano, além de estar sofrendo com as invasões Anglo-Saxonicas, e Artur, um grande estrategista cai em uma trama do destino, e se prende aos conflitos militares com os inimigos Saxões. As narrativas das batalhas são maravilhosas, excepcional, muito bem detalhada e elaborada.

Outro ponto que me chama a atenção é a invasão do Cristianismo, que confronta-se com a religião antiga dos Druidas; formando intrigas e tornando a ilha Britânica em um caos. A magia é outro ponto forte nas narrativas de Cornwell deixando em aberto o julgamento de fatos que tanto poderiam ter sido reais, como apenas uma combinação de manipulações psicológicas, retórica e o uso de tecnologias primitivas.

Um jogo de intrigas feitas pelo Destino. Conflitos militares e religiosos. Amor, e MUITA brutalidade, sangue e espadas rompendo escudos.